Viagem a Belém/COP30: Amplificando as vozes indígenas da Amazônia

O PODER DA LIDERANÇA DE BASE

Nossa jornada pelas paisagens verdes ondulantes da Amazônia foi mais do que uma visita ao local – foi uma imersão na linha de frente da defesa do clima. Testemunhamos em primeira mão como os povos indígenas e as comunidades locais (IPLCs) são responsáveis pela preservação da floresta e pelo gerenciamento sustentável dos recursos.

O evento CUIDA, realizado entre 12 e 17 de dezembro de 2024, concentrou-se na promoção da justiça climática por meio do desenvolvimento da capacidade de comunicação e defesa e demonstrou o papel vital das vozes locais na formação da ação climática global. Durante cinco dias intensos, nos envolvemos com comunidades que exemplificam a resiliência diante de desafios sem precedentes.

HONRANDO O LEGADO DE CHICO MENDES

O mês de dezembro de 2024 marcou a 36ª comemoração do assassinato de Chico Mendes. Em sua casa em Xapuri, ficamos profundamente comovidos com o preço que ele pagou para defender os direitos dos povos indígenas e da Floresta Amazônica. Seu legado mais significativo continua vivo por meio do estabelecimento das Resex (reservas extrativistas), um tipo único de área protegida que permite que as comunidades locais realizem atividades tradicionais enquanto preservam a floresta de forma sustentável.

Durante nossa visita à primeira Resex no Brasil, a Reserva Extrativista Chico Mendes, testemunhamos como as atividades tradicionais, como a extração da borracha e da castanha-do-pará, continuam a prosperar, demonstrando a integração bem-sucedida dos meios de subsistência da comunidade com a conservação da floresta.

VOZES INDÍGENAS: A PRIMEIRA LINHA DE DEFESA CLIMÁTICA

Ao longo de nossa jornada, uma verdade ficou clara: os IPLCs têm o papel essencial de serem os defensores mais confiáveis do nosso planeta. Essas comunidades são inestimáveis como os primeiros a responder a emergências climáticas, líderes de pensamento em soluções sustentáveis, guardiões do conhecimento tradicional crucial para a preservação da floresta e pioneiros do gerenciamento eficaz de recursos naturais.

No entanto, essas mesmas comunidades enfrentam desafios constantes: apropriação de terras, batalhas legais, violência e marginalização sistemática. Suas vozes, apesar de serem fundamentais para a ação climática, muitas vezes não são ouvidas nas discussões globais.

FORTALECENDO NOSSO APRENDIZADO PARA O FUTURO

O evento da CUIDA também forneceu percepções essenciais para o planejamento, monitoramento, avaliação e aprendizado (PMEL), à medida que nos preparamos para a próxima avaliação final do programa VCA. Foi um lembrete da importância de capturar não apenas os resultados, mas as mudanças transformadoras impulsionadas pelos IPLCs. Refletir sobre as lições aprendidas na Amazônia ajudará a moldar a forma como avaliamos o progresso, medimos o impacto e documentamos as histórias de mudança.

O evento ressaltou o valor da cocriação nos processos do PMEL, garantindo que os IPLCs estejam na vanguarda da definição do sucesso e da identificação de estratégias para sustentar os esforços de justiça climática. À medida que avançarmos, essas percepções informarão como adaptar nossas ferramentas e metodologias, garantindo que elas permaneçam inclusivas, participativas e alinhadas com as realidades locais.

DA AÇÃO LOCAL AO IMPACTO GLOBAL

O programa CUIDA está trabalhando para mudar essa narrativa por meio de seu foco no desenvolvimento da capacidade de comunicação. Durante nossas sessões de workshop, testemunhamos defensores locais sendo equipados com ferramentas para ampliar suas vozes e compartilhar suas histórias de forma eficaz. A feira de economia solidária demonstrou como as práticas sustentáveis podem apoiar tanto a preservação ambiental quanto a subsistência da comunidade.

A jornada reforçou três prioridades críticas enquanto nos preparamos para a COP30 em Belém:

1. Criar espaços significativos para que os IPLCs influenciem as narrativas da crise climática.
2. Redirecionar o financiamento substancial do clima para apoiar iniciativas lideradas localmente.
3. Garantir que o conhecimento e os direitos tradicionais/indígenas sejam respeitados e protegidos.

UMA TRANSFORMAÇÃO PESSOAL

O que começou como uma visita profissional tornou-se uma profunda jornada pessoal. Por meio de seu povo e de sua conexão com a floresta, o Brasil nos mostrou que a ação climática eficaz é inerentemente pessoal e está profundamente enraizada na comunidade. Os fluxos serenos dos rios, o espírito comunitário vibrante e a dedicação inabalável à proteção ambiental deixaram uma marca indelével em nossos corações.

OLHANDO PARA O FUTURO: O CAMINHO PARA A COP30

À medida que nos aproximamos da COP30 em Belém, as lições do nosso tempo na Amazônia guiam nosso caminho. Aprendemos que a liderança eficaz exige que você esteja no local e que a compreensão das nuances do impacto da VCA exige o envolvimento direto com as comunidades que atendemos.

O caminho para a justiça climática exige mais do que políticas e programas – exige uma parceria genuína com aqueles que vêm protegendo os ecossistemas mais importantes do nosso planeta há gerações. Os defensores da Amazônia nos mostraram que as soluções locais podem ter um impacto global.

Vamos garantir que as vozes indígenas liderem o caminho na formação de nossa resposta à crise climática. Como Chico Mendes nos mostrou, o futuro da Amazônia – e, na verdade, do nosso planeta – depende disso.

CUIDA!!! Viva!

Escrito por Job Muriithi, PMEL Global da Hivos VCA e Danielle Almeida, Oficial de Projetos da Hivos Brasil